sexta-feira, 28 de outubro de 2011

UN GIRO IN TOSCANA

As aulas do curso de italiano acabaram e, esse filho de Deus que vos escreve, merecia mais que um mês em Roma tentando aprender a falar cantando.
Decidi que após o curso iria conhecer algo da Toscana e um pouco do resto da Itália. Assim, ainda no Brasil, comentei com vários amigos sobre a possibilidade de me acompanharem nessa parte final da aventura italiana, pois minha vontade era alugar um carro e sair rodando. Contudo, para isso, eu precisava de uma companhia... e consegui.
Minha amiga Karla Tancredi decidiu que sairia do Brasil rumo à Itália só para me acompanhar nessa (mini) aventura rodoviária.
A Karla chegou a Roma durante a minha última semana de curso. Apesar das manhãs ocupadas consegui lhe mostrar algumas coisas da Cidade Eterna (sempre de ônibus e metrô, como um bom adepto do turismo mão-de-vaca) e ainda conseguimos passar uma tarde num outlet próximo, chamado Castel Romano.
No sábado, dia 22 de outubro, iniciamos o roteiro que planejei com as seguintes cidades da Toscana, nessa ordem: Castiglione della Pescaia (208km de Roma); Montalcino (78km da cidade anterior); Monticchiello (30km da cidade anterior); Pienza (10km da cidade anterior); Montepulciano (14km da cidade anterior); Torrita di Siena (12km da cidade anterior); Cortona (29km da cidade anterior); Arezzo (30 km da cidade anterior); Siena (35km da cidade anterior); San Gimignano (44km da cidade anterior); e Firenze (56km da cidade anterior).
Depois de aproximadamente 2,5 horas de carro, chegamos ao primeiro destino, Castiglione della Pescaia. E que cidade linda! À beira mar, tem uma atmosfera maravilhosa, combinando o charme de uma cidade medieval com a bossa de ter uma praia aos seus pés! Apaixonante e fantástica.

Castiglione della Pescaia, foto de Karla Tancredi

Castiglione della Pescaia

O segundo destino, e onde dormimos na primeira noite, foi Montalcino. Famosíssima pelos vinhos de suas vinícolas, a cidade segue a linha medieval, com ruelas e ladeiras de pedras, adornadas por enotecas para todos os lados que se olha. Um acinte ser metralhado por tantos rótulos maravilhosos e não se ter tempo suficiente para provar todos, tampouco bagagem suficiente para levá-los consigo.

Montalcino

Vista dos campos de Montalcino
Na manhã de domingo, ainda em Montalcino, pudemos apreciar a largada de uma corrida de bike, pois a cidade, naquele fim de semana, sediava um movimentado evento deste esporte.
Seguimos, então, para Monticchielo, que não chega a ser uma cidade verdadeiramente atraente. Claro que possui todo esse charme da Toscana, com atmosfera medieval, mas o ponto alto, fato, é a estradinha que leva à cidade, sinuosa e absurdamente linda.

Estrada para Monticchiello

Estrada para Monticchiello

No caminho para Monticchielo vimos uma placa indicando a venda de azeite de oliva. Pegamos uma curtíssima via que levava da estrada à casa de uma senhora, muito simpática produtora do azeite de oliva. Claro que compramos seu azeite, quase artesanal, por €10,00 a garrafa de 750ml! Conversei com ela que me explicou que a produção do azeite é curta: colheita da azeitona numa semana, e produção na outra. Para ela, particularmente, o azeite bom é o novo, acabado de ser feito. O que compramos já tinha algumas semanas, mas ainda é considerado novo. Mas como ela disse, tem quem prefira aguardar um ano para começar o consumo, “ma non, io preferisco nuovo!” disse ela!


Sim, as oliveiras existem. Azeitonas não nascem em vidros de conserva
nos supermercados! :D

O Azeite!

E não é que meu italiano não está me fazendo passar vergonha? Aquela senhora até elogiou que estou falando muito bem! Que linda!
De Monticchielo fomos para Pienza. Que maravilha! Altamente medieval, com aquele ar bucólico que só quem conhece a Toscana é capaz de entender. O forte da cidade é a produção de queijo picorino de toda espécie, forma e qualidade. Também é forte a produção de azeite trufado que, óbvio, foi devidamente comprado!

Pienza

"1000" variedades de queijo picorino!

De lá, rumamos para Montepulciano, mas no caminho, outra parada na estrada para visitar um produtor de queijo picorino... pelo que me mostraram, há quatro tipos de Picorino: o novo (com 1 mês para produzir), o curto (com 3 meses de produção), o médio (com 6 meses de produção) e o longo (com 1 ano para ser produzido). Comprei dois: o curto e o longo. E ainda levei, de quebra, um salame artesanal!
Em Montepulciano dei um giro rápido, mas ainda assim apaixonante.

Montepulciano

Montepulciano

Enfim o domingo chegava ao fim e nós chegávamos a Torrita di Siena. A cidade, bastante pequena, segue a linha medieval da região, com uma bela piazza central onde tomamos um chocolate delicioso preparado pelo simpático proprietário, um italiano de meia idade, gordinho e risonho. Estava frio, por isso frisei que a bebida deveria estar bem quentinha. Como resposta ele me disse para não me preocupar porque o chocolate dele era especial!

Torrita di Siena


Torrita di Siena

Dormimos na cidade, num super confortável e charmosíssimo hotel instalado onde antigamente funcionava um convento e, por isso, dava o nome do estabelecimento: Il Convento.
Na manhã de segunda-feira fomos para Cortona. A cidade foi locação para o filme "Sob o Sol da Toscana". O filme trata de grandes viradas que as pessoas podem dar em suas vidas... inspirador, em todos os sentidos, da lição de vida, à paisagem maravilhosa.

Vista da cidade de Cortona

Cortona

Logo no início do passeio por Cortona, uma freira brasileira, Irmã Adelaide, nos ouviu conversando em português e se aproximou, começando a conversar conosco. Ela mora na Itália há quatro anos e pertence à congregação das Suore Serve di Maria Riparatrici. Ela contou que o convento delas é muito grande, por isso há pouco tempo começaram a receber hóspedes. Uma simpatia de pessoa. Nos indicou uma visita à Cela de São Francisco de Assis, bem próxima à cidade.
O local é lindíssimo e é onde São Francisco fazia seus retiros espirituais. No local conservam a cela onde dormia e a capela onde fazia suas orações. Um lugar com uma energia incrível.
Não tem como não fazer uma oração e pedir por todos, muita paz, saúde e amor...

Le Celle di San Francesco

Seguimos para Arezzo. É repetitivo, eu sei, mas que cidade linda! O charme da atmosfera medieval, realmente, me encanta. E essa cidade, por sua vez, foi locação para o filme "A Vida é Bela", ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 1999, desbancando "Central do Brasil".

Arezzo

Arezzo

E finalmente, Siena, para dormir e descansar.
Siena é absurdamente linda! A piazza central, conhecida como Il Campo, é linda!!! A basílica da cidade conhecida por Duomo, é um rompante de deslumbramento, incluindo a estátua em bronze de São João, autoria de Donatello.

Il Campo - Siena

Duomo - Siena

Nessa noite, sentamos no Il Campo para bebermos vinho. E como brasileiros se atraem, conhecemos a Fernanda, uma carioca que mora em Londres há 4 meses. Está fazendo um giro pela Itália com o namorado inglês e no dia seguinte iria para Roma. Trocamos figurinha: dei dicas de Roma e ela me deu dicas de Londres! Delícia!
No dia seguinte, terça-feira, seguimos para Firenze, com parada obrigatória em San Gimignano. A cidade é conhecida pelas várias torres e, segundo alguns sites de turismo, poderia ser perfeitamente nominada de New York da Idade Média, de tantos arranha-céus que possui. É bom ponderar que isto se trata de uma brincadeira, afinal, as torres, apesar de várias, não são tão altas, mas na época, sim, eram muito altas para os padrões.

San Gimignano

Algumas poucas torres das muitas que
existem em San Gimignano.

Enfim, chegamos em Firenze, último destino do nosso giro rodoviário. Não há palavras que possam descrever a capital da Toscana. É, simplesmente, única!!!


Vista às margens do rio que corta Firenze.

Uma via de Firenze, com o Duomo ao fundo.

Duomo de Firenze

Além da arquitetura, das construções históricas lindíssimas, Firenze guarda algumas das maiores obras primas da arte renascentista: Davi (de Michelângelo) – na Galleria dell’AccademiaO Nascimento da Vênus (de Botticelli), A Primavera (também de Botticelli), A Sagrada Família (de Michelângelo), Adoração dos Reis Magos (de Leonardo da Vinci) – na Galleria degli UfizziPiazza della Signoria, com várias obras em exposição, algumas são cópias, como o Davi (de Michelângelo) e Judite e Holofernes (de Donatello), mas as demais, ao que consta, são as originais: Perseu (de Cellini), Rapto das Sabinas (de Giambologna), Hércules e Cacus (de Bandineli) e Netuno (de Ammanati).

Netuno (Piazza della Signoria)

Davi (Piazza della Signoria)

O Rapto das Sabinas (Piazza della Signoria)

A cabeça da Medusa, morta por Perseu
(Piazza della Signoria)

Firenze é assim, um banho de arte e cultura que ficam marcadas em nossas mentes e corações como ferro em brasa.
Aliás, assim é a Toscana que perfura os corações de seus visitantes, deixando um buraco quando se parte. E com o pesar da partida surge, indubitavelmente, a promessa de uma nova visita.

Sob o nascer do Sol, na Toscana.

4 comentários:

  1. Maravilhoso...texto, fotos, tudo! Lembra que te mostrei O Rapto das Sabrinas, deve ser lindo ao vivo. estou carente de mais fotos, mas agüento esperar você chegar. Grande abraço. Ansioso pelo próximo post.

    ResponderExcluir
  2. olhos rasos d'água, plenamente emocionada com tua experiência... Parabéns!
    =*

    ResponderExcluir
  3. Pi, A Itália te fez muito bem em muitos aspectos. Um deles foi tu colocares pra fora toda a poesia ao descrever as tuas aventuras. Com o teu olhar poético e generoso, nos presenteias com textos e fotos maravilhosos de lugares lindos. Sim, vamos todos conhecer esses lugares maravilhosos depois dos teus belos relatos. E eu vou ficar com saudades deste blog quando a viagem acabar, pois é uma delícia viajar contigo. Beijos!!!

    ResponderExcluir
  4. Tia, fico muito envaidecido com os comentários de todos que acompanham o blog. E acho que o blog não pára por aqui. Como disseste, essa viagem me fez bem em vários aspectos, inclusive o de continuar escrevendo. Certamente não terá a frequência de atualizações que teve durante a viagem, mas ele persistirá. Afinal, a proposta é ampla (um pouco de tudo, tudo que der).
    Espero ter sempre o que expor da minha coexistência com o mundo em que vivo.

    ResponderExcluir