domingo, 2 de outubro de 2011

ROMA: O INÍCIO

Hoje faz 8 dias que cheguei em Roma.
Aterrissei pelo Aeroporto de Leonardo da Vinci, conhecido como Fiumicino, a 36 km da cidade.
Ao desembarcar, segui as placas que indicavam o local de retirada de bagagens e, no fim das contas, acabei noutro terminal, em que as bagagens descarregadas não eram do meu voo.
Assim, tive que sair do aeroporto sem minhas malas e, pela calçada externa, andar até o terminal correto onde ocorre o desembarque da Tap, companhia aérea pela qual eu estava viajando.
Ao entrar no terminal, tive que procurar uma entrada para a sala de desembarque, onde eu esperava reencontrar minha bagagem. Essa entrada ficava entre duas grandes saídas do desembarque e para entrar tem que passar o que tiver em mãos pelo Raio-X e entrar pela porta de detector de metais.
Enfim, lá estava ela, minha mala vermelha, aguardando pacientemente por mim.
Com a bagagem toda em mãos saí em busca de um transporte para Roma. Há anúncios de táxi oferecendo serviço por €10,00. Não se engane! Esse valor é para locais próximo ao aeroporto. Para o Roma Termini, o preço vai de €30 a €40.
Para economizar tive duas alternativas, procurar o trem que, pelo que pesquisei, custa €11, ou procurar os ônibus expressos, por €8. Foi o que fiz.
Estava morto de cansado porque na véspera havia sido minha despedida de Lisboa e ficamos na discoteca até 4 da manhã, com meu voo saindo às 7:30. Um terror!
Dormi, obviamente, a viagem inteira de ônibus, do aeroporto até o RomaTermini.
Ao desembarcar, a primeira coisa que vinha a minha cabeça era: “que calor”. Sim, Roma está quente de doer!
A média de temperatura, que esquenta de verdade a partir das 10 horas da manhã até às 17 horas, é de 29o C. A noite é agradável, mas não chega a esfriar pra valer.
Pois bem, chegando ao Roma Termini, procurei onde ficavam os táxis que, na verdade, são bem próximos de onde desembarquei do ônibus.
Era domingo, no horário do almoço, algo em torno de 13 ou 14 horas; as ruas tranquilas com pouco movimento; alguns elementos mal encarados sentados na calçada; e uma sensação de insegurança começou a me dominar. O que fazer? Bem, eu fiz cara de mau, com óculos grandão na cara, e segui! Não há o que fazer.
Peguei o táxi e dei o endereço do apartamento em que estou. Cheguei e quem disse que consegui encontrar a proprietária?
O nome dela não constava no interfone do edifício que, obviamente, não tem porteiro. Além disso, não há no interfone a indicação do apartamento, só o nome dos moradores!!!
Esperei por quase uma hora. Perguntei para duas moças que entraram separadamente no edifício, e a um senhor que saía dele, se conheciam a Signora Saruce. Todos disseram que não.
Bem, eu precisava ligar para ela e saber o que fazer, mas não tinha como. Meu telefone não funciona no exterior (lógico, afinal não vou pagar uma fortuna de tarifas), a linha pré-paga que adquiri em Lisboa também não funcionava, e não tinha um cartão telefônico para ligar. Como me arrependi de não ter logo comprado cartão telefônico quando vi a máquina no aeroporto.
Aqui vai, então, uma dica: chegando num aeroporto, compre um cartão telefônico.
Deixei minhas malas no saguão de entrada do edifício, mas ainda assim não podia sair pelas redondezas em busca de um cartão telefônico! Com a sensação de insegurança que adquiri ao desembarcar no Roma Termini, não me permitia imaginar outra coisa senão que, ao meu retorno ao edifício, minhas malas não estariam mais lá.
Sentei-me do lado de fora do prédio, pois havia uma mulher sentada próxima, conversando ao telefone. Estava decidido que, ao terminar a ligação, lhe ofereceria €3 para usar seu telefone celular que, esperava, ainda tivesse crédito depois de tanto tempo falando!
Não foi necessário. A proprietária do apartamento, ao sair do edifício, viu minhas malas e a mim e, finalmente, me recebeu.
Subimos por um elevador muito antigo, daqueles que tem duas portas: uma por fora e uma por dentro.
No apartamento, quem encontro? As duas garotas a quem perguntei sobre o a Signora Saruce e que elas disseram não conhecer! Além delas havia mais uma, todas espanholas.
Choque: vou dividir apartamento e banheiro com três garotas?
Pela cara delas, tiveram o mesmo choque!
A Sra. Ana, como agora a chamo, depois de descobri que ninguém a conhece pelo sobrenome, mostrou-me meu quarto e os banheiros, que são 2.
O quarto não é ruim, mas o móveis são terrivelmente velhos. Há uma sacada que eu divido com o quarto de uma das meninas.

Este é meu quarto.
Esta é vista da sacada, em uma das direções, ao sudoeste.

Desarrumei minha mala; coloquei minhas coisas no guarda roupas; e fui tomar banho. Dirigi-me a uma das meninas se eu poderia usar o banheiro tal.
E assim descobri que ela não fala italiano, nem inglês!!! Mas ela entendeu o que eu queria saber e deu a entender que eu podia usá-lo. Que banheiro imundo! Cabelo pra tudo que é lado, dentro da pia, dentro do box, pelo chão!
Deu nojo de tomar banho ali, mas eu precisava de um banho.

Este é o banheiro imundo.

Depois voltei para o meu quarto e me deitei um pouco.
Nessa hora, em que eu encostei minha cabeça no travesseiro, comecei a me perguntar o que estava fazendo aqui. Por que tinha saído do meu conforto, da minha casa, para me colocar numa situação incômoda dessas?
Depois de alguns minutos de lamúria total, lembrei que tinha feito isto, justamente, para aprender com essas dificuldades e ser alguém melhor, mais experiente e mais maduro. Decidi que ia sair da cama e começar a dominação de Roma.
Saindo do quarto encontrei com outra das 3 espanholas, um pouco mais simpática que a primeira. Perguntei se havia um shopping center por perto ou algo assim? Com uma cara de que eu estava falando grego, disse que não sabia e só!
Convenhamos, italiano e português não são tão diferentes do espanhol a ponto que não possamos nos comunicar!
Saí a esmo, então. Andei muito nesta tarde e percebi que Roma quase para aos domingos. Bares e Restaurantes fechados, ruas desertas e a sensação de insegurança aumentando! Infelizmente, nesta tarde, me dei por satisfeito em comer um BigMac.
A região onde estou morando não pertence à área turística de Roma, por isso nenhum dos mapas dos guias mostra as ruas daqui. Tive que me virar com o GPS que trouxe, pra quando, ao fim do curso, alugar um carro para passear pela Toscana.
GPS que não é para andar a pé, não funciona bem quando usado desta forma (outra dica), mas foi o que me salvou, porque pude, ao menos, consultar o mapa da área.
Cheguei à estação de metrô, chamada Bologna. É a mais próxima do meu apartamento e já fica meio longe: 1,2km.
Lá comprei um ticket semanal do metrô e fui para a estação central, o Roma Termini.
O Roma Termini é grande e tem várias lojas e conveniências. Apresenta-se como a principal estação de metrô, estação de Trêm Intermunicipal e estação rodoviária urbana. Enfim, é o centrão de Roma.
Precisava ligar para o Brasil, precisava ouvir uma voz querida que pudesse me acalmar. Comprei um cartão de ligação internacional, mas não consegui usar. Não funcionou de jeito nenhum!
Saí da estação em busca de algo que pudesse me trazer acalento, e achei: um cyber!
A €1,5 por hora, pude buscar algumas das respostas que me atormentavam.
Primeiro liguei para o Brasil pelo Skype. Ah, como amo tecnologia!
Ao ouvir aquela voz familiar ao telefone, dizendo para me acalmar, foi como se, enfim, não estive mais sozinho e o mundo não era tão cinza quanto parecia.
Chorei, confesso.
Depois de alguns minutos de conversa e bem mais calmo, comecei a articular o que precisaria para garantir minha sobrevivência mínima na cidade enquanto não conseguisse comprar uma linha pré-paga, com internet, para meu celular.
Assim, descobri qual ônibus deveria pegar para ir dali para o apartamento e, no dia seguinte, do apartamento para a escola. Descobri também que, na ida, deveria pegá-lo na Fermata Independeza, mas não sabia onde era exatamente e, por isso andei quase uma hora na área do Roma Termini buscando o tal ônibus 310 (trecento dieci).
A sensação de insegurança, naquele momento, era muito forte. Era noite, eu estava meio que perdido, cansado e sozinho. As sensações são muito subjetivas e o que uma pessoa sente diante de determinada situação pode não ser exatamente o sentimento da outra.
Mas o importante é lutarmos contra sentimentos que possam nos algemar. Hoje percebo que Roma não é insegura como senti num primeiro momento. Várias vezes já peguei ônibus pra lá de 10 da noite sem problemas. Tampouco o domingo é assim tão paradão. Mas o controle deste sentimento de insegurança não aconteceu instantaneamente. Levei alguns dias para tomar as rédeas da minha passagem por Roma.

2 comentários:

  1. Até que enfim um post sobre a Italia, estou super ansiosa para continuar lendo suas experiencias.
    Ao ler o seu relato imaginei os milhoes de imigrantes que saem dos seus paises e se encontram numa situacao parecida porem sem ter p onde retornar ou para quem ligar para ter um alento. Tenho certeza de que essa experiencia te fara crescer ainda mais e dar mais valor para aquilo q vc ja conquistou.
    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Pi, Morremos de rir com o teu post: eu, Uile e Shirley, lá em Sampa. Achamos o máximo a tua cara de mau de óculos escuros e adoramos a forma engraçada de contar o teu drama de chegada. Eu sempre fico orgulhosa de você, meu filho, de encarar as dificuldades com decisão, mesmo que no fundo esteja com uma bruta insegurança. Isso é que nos dá maturidade para enfrentar as piores coisas da vida. Essa decisão do "vamos em frente" é muito importante. E depois vemos que a coisa nem é tão feia quanto se afigurava a princípio, não? Ah, teu post meu lembrou muito das dificuldades que a autora do "Comer, Rezar e Amar" enfrentou na chegada dela à Itália. Ou seja, faz parte do script, não? E tem outra: quem sabe você esteja morando dentro de milênios de história nesse quarto velho. Destaque também para o banheiro sujo, que, pelo que te conheço, logo estarás impondo ao povo da casa regras de higiene (mesmo que sejam demonstrativas, ou seja, tu limpas para mostrares que gostas de limpeza). De qualquer forma, tenho certeza que vais sentir saudades de tudo isso, dessa tua experiência, desse tempo só teu. Beijos querido!!!

    ResponderExcluir