sábado, 8 de outubro de 2011

LA SCUOLA

No dia seguinte à má impressão inicial de Roma, começou o curso de italiano.
Cedo rumei para o endereço do curso: Via Marghera, 22. A escola se chama Dilit.
Ainda sem internet no celular, tive que me virar com o tal GPS para carros, minha praticamente única ferramenta a me auxiliar. Praticamente porque ainda tinha a melhor e mais importante ferramenta para se virar numa enrascada: a boca. Como dizem, “quem tem boca vai à Roma”... mas era justamente em Roma que eu estava e, sinceramente, não queria necessitar usar a boca para chegar na escola por estar envergonhado do meu pobre italiano.
É fato que no primeiro dia de ida para a escola não deu tudo 100% certo, afinal, desci do transporte duas paradas de ônibus antes do devido. Ocorre que antes de embarcar eu havia contado quantas "fermate" seriam necessárias para eu chegar onde queria, mas no meio do caminho acabei perdendo as contas...
Mas isso não interessa, pois o importante foi chegar. E cheguei.
Na escola, a primeira coisa a fazer foi tomar um café para aguardar ser atendido... ai, ai... o café italiano é tudo aquilo que dizem e mais um pouco.
De café tomado, conheci, logo na fila do atendimento, outra brasileira que veio a ser a minha grande companhia por duas semanas.
O primeiro passo do atendimento é fazer um pequeno teste para avaliar o seu conhecimento da língua italiana. É um teste bem simples, direto e totalmente objetivo.
Depois do teste escrito, o aluno conversa com um dos diretos da escola que decide, enfim, a que nível o aluno deve ser encaminhado.
Surpreendentemente, fui para o 5º nível, exatamente o meu último nível do curso de italiano feito no Brasil, em 2001.
Minha “professoressa” se chama Francesca. Super simpática me deu as boas vindas e pediu para sentar.
A turma tem, em média 15 alunos. Destes, pelo menos 6 são da Suíça. Aliás, fiquei surpreso em perceber que a maioria dos alunos da escola é da Suíça!
Mas tem também alunos de outras partes do mundo: Líbano, Venezuela, Brasil, Bélgica e Suriname (só na minha sala)
Não sei dizer se a aula foi puxada ou se eu que estava muito ruim, porque foi difícil. Percebi que meu conhecimento estava muito precário, faltando-me vocabulário, memória das conjugações verbais e, principalmente, sobrando-me medo de fazer e falar besteira.
Ao fim da aula conversei com Francesca e disse-lhe estar surpreso em estar naquele nível. Contei que estudei italiano há muitos anos, mas que há tantos não falava ou praticava.
E com um belo sorriso no rosto me disse para não me preocupar, porque o italiano estava dentro da minha cabeça e só precisava de um pouco de tempo para sair.
Foi animador.
Depois, encontrei com a brasileira com quem me entrosei na primeira hora dentro da escola e fomos em busca de um simcard “ricaricabile” (o famoso chip pré-pago do Brasil). Comprado e instalado...
Agora sim, com meu celular acessando o Google Maps, eu estava verdadeiramente pronto para começar a dominar a cidade...
A única coisa que ainda me incomodava era a localização e o apartmento onde eu estava. Definitivamente esse era o grande problema que consumia minha vida durante os 4 primeiros dias em Roma.
Mas bons ventos sopraram em minha direção. Depois de ir no departamento da escola, responsável pela moradia dos alunos, recebi a boa notícia que eu poderia trocar de apartamento. O novo apartamento para onde eu iria era da mesma proprietária do apartamento onde estava.
Era quarta-feira, depois da aula. Fui ver o apartamento e conversar com a Sra Ana.
Eu adorei a localização! Metade do caminho de onde eu estava para a escola e com tudo perto, inclusive metrô.
Mas o apartamento não era legal. O quarto onde eu ficaria ainda estava sujo e o mobiliário não era melhor que o meu. Além disso, para três quartos só tinha um banheiro pequeno.
A vantagem era, além da localização, que os demais moradores estavam na mesma escola que eu... ou seja, estaríamos dividindo exatamente as mesmas experiências, inclusive o aprendizado do italiano.
Mas a Sra. Ana me convenceu a aguardar, garantindo que as meninas espanholas (e porcas) sairiam do apartamento até o fim de semana e que, comigo, só ficariam, também, alunos da Dilit.
Voltei para casa um pouco triste porque tinha gostado bastante da localização da outra moradia e porque, num primeiro momento, aquilo pareceu ser a solução dos meus problemas.
Ao chegar em casa e encarar as caras fechadas das espanholas, tranquei-me em meu quarto.
Deitado para descansar fiquei pensando em tudo aquilo que estava vivendo... Pensei no quanto sempre tive uma vida confortável, com pessoas viabilizando para mim todo aquele conforto.
Lembrei com saudade da minha casa, do meu quarto, da minha cama, da minha companhia, dos meus gatos, da minha televisão...
E lembrei também do porque eu decidi vir para Roma fazer esse intercâmbio... para crescer.
E foi isso que eu fiz.
Fui no supermercado próximo, comprei material de limpeza, pano de chão, varal de roupa, sabão em pó, amaciante, papel higiênico, desodorante, xampu e sabonete.
Voltei para casa, limpei o banheiro que uso (e agora praticamente só eu uso), ocupei parte do armário com meu material de higiene pessoal, coloquei um tapetinho na porta do box, para pararem de encharcar o banheiro depois do banho, tomei um banho e saí... a segunda etapa da dominação de Roma estava concluída.

5 comentários:

  1. É isso aí... Com licença eu vou a luta. Parabéns.
    Aqui em Belém é comum dizer: "de banho tomado...". De café tomado, foi a primeira vez. Adorei. Boa sorte.

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  2. Que coragem sua em fazer isso, e que vontade de ter esta oportunidade. Tenho certeza de que não irá arrepender-se!!! Volta e meia tô acompanhando aqui! In bocca al lupo!!! =D

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  3. Pi, no comentário anterior (que não consegui postar)eu falei exatamente isto: pelo que te conheço, tu mesmo vais limpar esse banheiro e impor o teu jeito de ser. Não deu outra hehehehe. Meu filho, parece que estou vendo um filme quando leio o que escreves e fico sempre feliz de te ver enfrentando tudo e decidindo tornar melhor a tua vida nem que seja na marra. Parabéns pela garra! Beijos!!!

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  4. Obrigado pelos comentários! Eu mesmo estou surpreso comigo. Não imaginava ter tanta garra e iniciativa pra driblar os contratempos. Se esse tempo em Roma não ajudar muito com o italiano, pelo menos servirá pra eu ver que sou capaz e, assim, acreditar.
    Acompanhem!

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  5. Fratello mio, nunca duvudei do teu potencial para superar as advesidades, cursaste uma escola maravilhosa de como superar contratempos e ser feliz!

    Ademais, o que seriam das histórias de viagens sem os contratempos para torna-las maravilhosas? Ainda lembro do expresso xingling Washington/NYC... rendeu uma anedota e tanto!

    Essa tua experiência, além da anedota, te renderá muito jois de vivre, pois terás uma idéia da tua capacidade de superação trazendo a alegria em cada conquista!

    Bjks sempre logada ta tua sorella!

    Btw, parabéns pela fluencia de 5o. nível em italiano! Q grata surpresa!!!!!

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